Pesquisadores vão monitorar 200 mil brasileiros pelos próximos dez anos. O objetivo é identificar características da alimentação que aumentam ou diminuem o risco de doenças crônicas.
O cheiro do pão de queijo que sai do forno puxa a memória das coisas boas.
“Café coado na hora, broa de fubá. Fazer queijo fresco, leite saindo direto da vaca, acho que essa é minha referência de Minas. E goiaba no pé”, diz a mineira Iara Rodrigues.
E o que dizer do dendê?
“O hábito nosso, baiano do litoral, come-se acarajé todos os dias. Todos os dias. E moquecas sempre que pode”, conta o baiano Exupério Silva Neto.
Esses sabores tão diversos são a riqueza do Brasil. Mas tantas delícias têm um preço.
“Estou até num regime brabo agora para ver se perco aí uns 20 quilos”, admitiu Exupério.
Hoje, quase 56% dos brasileiros estão com excesso de peso, segundo o Ministério da Saúde, e isso é fator de risco para doenças.
A estudante paulistana Marina Navile se cuida, mas tem suas tentações.
“Doce, sorvete, brigadeiro, bolo, eu peco no doce”.
No meio de tanta diversidade, o que está afetando a saúde dos brasileiros? Que tipo de dieta, de alimentos, devemos consumir mais ou menos? O que evitar, o que incluir? É para responder perguntas assim que um grupo de pesquisadores está começando um estudo que vai conhecer e acompanhar os hábitos alimentares no país durante dez anos.
É uma pesquisa ambiciosa, só possível por causa de uma tecnologia, o celular, e só vai ter sucesso com a ajuda de 200 mil voluntários.
“Eu preciso de um grande número de pessoas que tenham uma alimentação muito contrastante em relação seja a carne vermelha, seja em relação aos alimentos industrializados, seja em relação a um tipo de alimento especial como o peixe, por exemplo. É dessa forma que nós vamos poder fazer os estudos que vão trazer para o Brasil a informação de que padrões de alimentação a gente deve promover no país”, disse Carlos Augusto Monteiro, coordenador científico do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens-SP).
Participar é simples, basta se cadastrar no site do estudo Nutrinet Brasil e gastar uns cinco minutos com o questionário. A cada três meses, os voluntários vão receber uma mensagem para responder a novas perguntas.
Cientistas de sete instituições, liderados pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, acreditam que os primeiros resultados não devem demorar muito.
“A partir do terceiro ano do estudo, nós já vamos ter algumas análises que vão nos mostrar quais são os padrões de alimentação no Brasil que protegem as pessoas, por exemplo, do ganho de peso excessivo. Vamos precisar de um pouco mais de acompanhamento, certamente mais de cinco anos, para identificar os padrões de alimentação que protegem as pessoas contra doenças do coração ou contra casos de câncer. Mas, a partir do terceiro ano da pesquisa, nós já vamos começar a ter informações que vão poder orientar as políticas públicas no Brasil”, explicou o professor Carlos Augusto Monteiro.
“Eu acho importante até porque, depois de uma pesquisa dessa, divulgada no Brasil, a gente pode mudar muito o nosso ritmo de vida”, afirma o baiano Exupério.
“Serve como registro histórico e serve como um olhar para a frente mesmo, o futuro, de a gente falar: meu Deus, olha como o que eu faço agora impacta lá na frente”, concordou a mineira Iara.